sexta-feira, junho 16, 2006

pergunta e resposta ou resposta e pergunta

De tudo que se passou, me pergunto: Ficam-se os dedos? Na catalepsia a mente mais viva que nunca previu o velório para os seus ossos. Na hora derradeira ainda gritei mudo – não me enterrem, não. Vão-se os anéis... A tampa se lacrou com o grude da ignorância. Foi quando senti o gosto quente da primeira pá de areia cimentando o incontível silêncio das despedidas. “Se eu morrer hoje, amanhã faz dois dias...”.
Aluisio Martins


Insônia
Seu travesseiro ao lado
mudo
minha imaginação alada
vociferante
Deste lado a festa já acabou
espero sentada
tomo um chá de cadeira
Enquanto ventanias sussurram
janelas rangem
E a porta não abre
a dor que sinto e te delata não é bem no cotovelo...
Vão suas mãos
restam meus dedos
não consigo me dobrar
até sugar meus seios
As lágrimas apagaram minha maquiagem
e o espelho riu de mim
o vestido resolveu voltar pro armário
a chama apagou
a cidade acordou
acho que agora
a espera acabou
Karla Izidro

sexta-feira, junho 09, 2006

Espelhando


Quantos espelhos espalhados nesta casa?
Nos olhos dos retratos
nas costas de minha mãe
eu me vejo em tudo
no entanto sei que estou cega.
Feliz Narciso que amou a si e encontrou um lago em que se espelhar
eu só vejo faces sem sentidos em janelas de carros
em páginas de revistas,em telas corrosivas
em prédios espelhados e amontoados
estou cansada de ver tantas imagens luminosas
e andar no escuro
Quem dera minha face se encontrasse nas águas de um rio
em que eu pudesse
finalmente
me fundir com a natureza.
Karla Izidro