De tudo que se passou, me pergunto: Ficam-se os dedos? Na catalepsia a mente mais viva que nunca previu o velório para os seus ossos. Na hora derradeira ainda gritei mudo – não me enterrem, não. Vão-se os anéis... A tampa se lacrou com o grude da ignorância. Foi quando senti o gosto quente da primeira pá de areia cimentando o incontível silêncio das despedidas. “Se eu morrer hoje, amanhã faz dois dias...”.
Aluisio Martins
Insônia
Seu travesseiro ao lado
mudo
minha imaginação alada
vociferante
Deste lado a festa já acabou
espero sentada
tomo um chá de cadeira
Enquanto ventanias sussurram
janelas rangem
E a porta não abre
a dor que sinto e te delata não é bem no cotovelo...
Vão suas mãos
restam meus dedos
não consigo me dobrar
até sugar meus seios
As lágrimas apagaram minha maquiagem
e o espelho riu de mim
o vestido resolveu voltar pro armário
a chama apagou
a cidade acordou
acho que agora
a espera acabou
Karla Izidro
Oribela esconde uma fera no fundo do seu armário. Cuidado ao tirar o laço de cetin. Um tigre ou um elefante com seus dentes de marfim, podem escapar de seu jardim. Senhoras e senhores cuidado com ORibela A moça prendada também pode ser uma fera Uma mulher subjugada não tem nada de bonito Guarda embaixo de sua saia uma fúria desvairada Cuidado com a mulher que teve sua língua ceifada Pode até ser educada na Suíça ou “sacre croer” Mas no fundo da garganta uma voz que não fala canta.
sexta-feira, junho 16, 2006
sexta-feira, junho 09, 2006
Espelhando

Quantos espelhos espalhados nesta casa?
Nos olhos dos retratos
nas costas de minha mãe
eu me vejo em tudo
no entanto sei que estou cega.
Feliz Narciso que amou a si e encontrou um lago em que se espelhar
eu só vejo faces sem sentidos em janelas de carros
em páginas de revistas,em telas corrosivas
em prédios espelhados e amontoados
estou cansada de ver tantas imagens luminosas
e andar no escuro
Quem dera minha face se encontrasse nas águas de um rio
em que eu pudesse
finalmente
me fundir com a natureza.
Karla Izidro
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